domingo, 24 de maio de 2009

Francisco Buarque. Para os mais chegados, Chico.




Numa tarde de domingo chuvosa de São Paulo , Lígia , senhora idosa , de cabelos brancos e corpo marcado pelo tempo , remexia no sótão seu baú de suas lembranças empoeiradas . Ao encontrar o seu disco de vinil favorito com a foto de Chico Buarque estampada junto a uma dedicatória na capa, lágrimas de chuva escorrem pelas curvas de seu rosto envelhecido.
A dedicatória não era do cantor, mas sim de Francisco, o homem que dedicou toda sua vida a ela e ao seu país. Ao som do vinil , as lembranças voltam como veludo aos seus ouvidos. No cenário de lutas travadas entre polícia e estudantes subversivos , eles se conheceram e se apaixonaram em meio a adrenalina das revoltas contra a opressão e censura da ditadura militar.
Em um dos movimentos , Francisco é capturado e torturado nos porões da ditadura e nunca mais teve se notícias do jovem estudante, arquivo morto. O tempo é maldoso, o sofrimento da espera, talvez de alguém que nunca voltara, machuca junto a velhice o corpo e o coração da eterna enamorada grávida da paixão.
De repente a campainha toca , ao descer, a mistura de surpresa e emoção se convertem em lágrimas de alegria.
Era seu filho, já homem, sentado no sofá junto a um senhor de cabelos grisalhos e olhos azuis que se dirigia a ela com um grande sorriso, a este seu filho o apresentava como pai, que foi exilado. A chuva finalmente acaba e o sol radiante volta.
Leyna Hiromi Nakamigawa

3 comentários:

  1. Uma estória legal, reflexiva e também uma grande metáfora que pode ser visualizada a apartir de vários caminhos. Multimetafórica.

    Eu só não tenho certeza se a intenção do autor foi implicitar tais metáforas =B.

    Eu prefiro os textos dissertativos ou então estórias acomapanhadas de comentários =B...

    =]

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  2. O TEXTO É TÃO INTRIGANTE E INTENSO QUANTO QUEM O ESCREVEU!

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